PARABÉNS, RTP...
Alguns tempos atrás, pelas piores razões, mais propriamente dirigido a alguma meia dúzia, senão dúzia de jornalistas e que, possivelmente, de nariz empinado, se pavoneiam pelos corredores da RTP, pensando serem donos e deuses de um serviço daqueles que lhes pagam os ordenados, os contribuintes, mandei e publiquei a minha opinião referente... Como tal, pensando que não tenho o direito de me pronunciar só pela negativa, hoje e à data de 28.08.2017, achei meu dever prestar esta homenagem quanto à exibição, na RTP1, embora a más horas, 02:00 da manhã, hora ideal para noctívagos como eu, mas tal já é normal e em outras estações, pois que é de interesse, mas que no horário nobre de nada o tem, de uma verdadeira lição, num filme português, numa maravilhosa realização, argumentação, fotografia e sonoplastia, actores, cujo título se designa "Vidas a crédito"... uma verdadeira obra, em todos os sentidos, que vale a pena ver e aprender!... Por essa razão, PARABÉNS, RTP e a TODOS OS ENVOLVIDOS!
TUA COLMEIA
Nessa tua oculta colmeia,
Escondida nesses campos,
Por entre alguns arbustos,
Minha abelha e dulcineia,
Irei crestar do melhor mel,
Néctar da melhor colheita,
Cura de qualquer maleita,
Perdido em teus encantos.
Por teus vales, ou outeiros,
Deixarás, para meu prazer,
Nos princípios da confusão
E corrupio de meigo saber,
Espremer essa viscosidade
Num sentir da minha mão;
Serás rainha, obreira final,
Mestra do teu quartel!...
Eu soldado ao teu cortiço,
Zumbindo à tua vontade.
Serás fragrância e feitiço,
Inefável sabor magistral...
( Manuel Nunes Francisco ©® )
( Imagem da net )
ALGUMA INFÂNCIA
Recordo toda a minha infância,
Esses imensos sonhos de criança
E, por tão menino, na inocência
De alguma inquieta esperança...
Recordo essas enormes viagens
Por tantos caminhos poeirentos
E que, de tão verdes paisagens,
Eram cor de meus pensamentos.
Ah, como recordo essa serrania,
Toda a imensidão à minha volta,
As trapalhadas em que me metia
Pelos campos e em corrida solta!
Uma vez por outra, meus pais e eu
De fatinho mais rico e engomado,
Saíamos de farnel, cada qual o seu
E como se ao outro lado do mundo.
Outras eram as vezes que o velhote,
Na altura ainda um jovem de vigor,
Me levava aqui ou ali, nalguma sorte
E à descoberta de um outro sabor...
... Recordo o assento da pasteleira,
Veloz transporte, para mim único
E em que me sentava na traseira,
... Puto, tanto ou quanto púdico.
Seguíamos, os dois, na direcção à vila,
Ele pedalando, numa imagem de titã,
Eu, todo emproado, no maior reguila,
Perguntando quando iríamos à Sertã...
De vez em quando, lá íamos à ladeira,
Ou até mesmo pelo matagal adentro,
Que, para mim, era a maior aventura,
Senão mesmo o assalto de um castro...
Por esses caminhos, na sua harmónica
Que ia tocando, no encobrir a distância,
Lá fazia jus à sua obra, vasta melódica
De quanto seu, ou que de outros sabia.
Recordo algumas das inúmeras palavras
Que ia mencionando, ou mesmo dirigia...
Modestas, mas ricas, umas atrás de outras,
... Nalgum reviver do passado e nostalgia.
( Manuel Nunes Francisco ©® )
( Imagem da net )
MINHAS MÃOS, MEUS DEDOS
Em cada mão, tenho os meus dedos
Que apontam em todas as direcções
E que fazem parte dos meus medos...
É deles que tiro estas minhas ilações.
Um deles, estando voltado para mim
E que, nesse apontar, o mais perfeito,
Tanto que, na imperfeição, sou assim,
Pior que outro, em todo meu defeito.
Serei parte da nuvem negra que paira
E tecto deste mundo que construímos,
Sem a ideia desta chaga que não sara.
Seremos a pior da maleita, na podridão
E pocilga, em que de bem nos sentimos
Nesta conflituosidade e falta de noção...
( Manuel Nunes Francisco ©® )
ESSA IMAGEM
Neste meu pensamento idílico,
Deveras liberdade e sem freio,
Por campos rasos e sabor único,
Procuro a magia do que anseio.
Busco o universo do majestoso,
Nalguma paisagem mui pastoril,
De fronte ao vento e ser ansioso
De soberbos traços de teu perfil.
Simétrica estepe e doce sintonia,
Meigo embalar de mãe natureza
E, de ti, tão sedativa melancolia.
Faço jus a essa magnífica imagem,
Que decora toda a minha certeza,
Na maior e profunda vassalagem.
( Manuel Nunes Francisco ©® )
NA TUA OBEDIÊNCIA
Na tua obediência, sê tu e nunca outro,
Não sendo quem não és, ou não queiras...
Sê fiel a ti mesmo, a quem mais te serve,
Humilde para com o chefe, o teu patrão,
Se é que deles precisas e tanto eles de ti,
Fazendo parte duma parte e de um todo
E nunca esquecendo quem te está acima;
Obedece a quem mais seja teu superior,
Mas que nunca ninguém a ti o mais seja...
Procurando encontrar quem não te veja,
Na busca de que nem sempre tens razão,
Mas que ironicamente nisso tanto teimas...
Percebe a razão dos outros, naqueles sinais
Que nunca ousaste entender, no teu cinismo;
Não te escondas nessa avareza e riqueza,
Nem tenhas vergonha dessa tua pobreza,
Pois que a maior fortuna é o teu coração
E nunca aquilo que mostras na tua mão...
Sê concreto no valor do teu pensamento,
Procurando soluções para o teu lamento
Nos caminhos mais tortuosos da alegria,
Pondo de parte toda e qualquer teimosia,
Num qualquer analgésico a essa tua dor...
Percebe que não te é fácil esse teu modo,
Muito menos para quem a teu lado lida...
Pior se esse alguém faz parte da tua vida.
Entende que nunca serás nada, ou alguém,
Se teimares que não precisas de ninguém,
... Será esse o teu pecado e num pior final,
Tanto mais que reclamas um teu celestial.
Sendo tu, que te proclamas, em tua cisma,
Como superior a tudo e a todos os demais,
Nunca te esqueças que és de ti um servo,
À escravatura te ti próprio, nesse egoísmo,
À servidão de tantos e semelhante escravo,
Tanto mais, se não reconheceres esse lugar
Do teu semelhante, que obediência te deve
Nalguma equação matemática de igualdade,
Que tu tanto apregoas de teu irmão e amar,
Senão à hipócrita declaração de tua maldade
E teu olhar para mim, renegando o que senti
Nalgum puro sentimento, que em ti procuro
Enquanto me acompanhas, calmo e sereno,
Mas com o pensamento repleto de veneno,
Por estes caminhos que tão de mim são teus
Nesta minha obediência e que de ti são meus...
No teu acatamento, busca nesse teu trilho,
Sem tropeçares, ou tão-pouco empurrares
Quem quer que seja, como mero empecilho
... E dando o que queres, sem nunca te dares!
( Manuel Nunes Francisco ©® )
GRATIDÃO
Gratidão, a todos e quanto me atacam,
... Aos tantos e que de mais me adoram,
... Ou todos os demais que me odeiam,
... A todos, este imaculado agradecido!
De nada tenho que ficar triste, ofendido,
Só porque não remam no mesmo batel
E de minha arquitectura não são capitel,
Mas contente, por saber o quanto existo,
Que a meu parecer me entrego, persisto,
Pelo que o adverso seria de meu espanto,
Pois que é de tais iguarias o meu sustento.
Entrego-me a tantos e tanto me recordam,
... Tais que me fazem pensar na existência,
Pois penso e o cómodo é minha ausência!...
Nunca me deixando descair na sonolência,
Tampouco que minha seja a subserviência!
É deveras a minha gratidão aos que partem,
Mas que me são fiéis e ao meu pensamento;
São esses que me deixam, mas não desistem
No ficar a meu lado a qualquer momento...
( Manuel Nunes Francisco ©® )
CALOR DE VERÃO
Nesta sensual postura do ano,
Dá-nos um gozo andar na rua,
Há quem ande de pouco pano
E uma, ou outra, o quase nua.
Sempre alguma mais atrevida,
Com seu rabinho quase ao léu,
Parecendo andorinha perdida,
Sobrevoando um qualquer céu.
Vestido abaixo e vestido acima,
Tanto ou quanto num segredo,
É um ver quem mais se afirma...
Umas esguias, outras redondas,
Mas tantas sem qualquer medo
Das medidas e das suas ondas...
( Manuel Nunes Francisco ©® )
PELA MADRUGADA
Pelo sol-nado, fresca brisa da madrugada,
Levanto-me e faço-me a passos à estrada;
Sinto os cabelos, num meigo, suave sopro,
Sacudidos ao vento, como crina de ginete
A galope e por qualquer planície distante.
Com todo o tempo, no meu passo a passo,
Determinado, destemido, neste compasso,
Nesta minha alma e no conceito que supro,
Limito-me por qualquer falha de acutância
E tão ascendente quanto maior a distância.
Transporto, comigo, uma genuína têmpera,
Que me suporta nesta vida e me torna fera,
Desígnio do maior rubro, na melhor frágua,
Na incandescência de demais interrogações
E que todos indagamos no seio das ilusões...
Neste percurso e numa mal arrumada fraga,
Vivo para o que tenho de melhor nesta saga,
Mergulhando ideias na mais purificada água,
Num deslumbro dos raios matinais, à solapa
E sabendo que pouco, ou nada, já me escapa.
( Manuel Nunes Francisco ©® )
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