SIMBIOSE
Adormeço e acordo nesta simbiose,
Nesta minha estúpida preocupação;
Pois é tempo de curtir a minha pose
E deixar de me castigar nesta razão.
Quero paz, sossego, ouvir as crianças
Gritando de alegria, nos seus sorrisos,
Perceber como são belas suas danças
Enquanto pulam, sem quaisquer juízos.
Neste sentimento, lembro a doutrina
E a filosofia que tanto me ensinaram...
Efémero dialecto do virar da esquina!
Quero estender-me nos meus lençóis,
Acarinhar as cobertas que me mimam,
Sabendo que, como eu, já somos dois...
( Manuel Nunes Francisco ©® )
( Imagem da net )
VERSOS DO INVERSO
Dói-me a alma e a sola dos sapatos...
Adoro o agre do prazer em todos estes medos,
Num desinteresse dos factos de tais meus actos.
Escorrem-me os azeites dos meus vinagres,
Faço uma amálgama de doces nos meus azedos.
Apertam-se-me todas as pedras à tua volta
E impugno alguma luz nesta nossa escuridão...
Pesa-me a tua lápide nesta minha sepultura!
Gosto dos raios de sol escondido entre as nuvens,
... Dizer-te, à minha partida, que aqui me tens!
Às vezes, chego a pensar que emergi de uma fossa,
Neste olhar à minha volta e em que só vejo merda...
Sinto-me como peixe na água, de barbatanas gastas,
Numa insaciável fome e vontade de vomitar carne.
Quero ser camelo neste deserto, de vazia bossa,
Ser a doçura de um crocodilo e de pele tão dura,
Que já nada lhe entra... salvo nas suas mandíbulas!
Quero saber alguma irracionalidade na minha razão,
Comer as papas do teu saber nessa tua massa lerda...
Adoro ver-te, nessa tua bela imagem, cheia de acne,
Nesses pacíficos cartazes de rua, criadores de revolta...
Confortado zé-ninguém e senhorio de todos os lares,
Que nunca passaste dum monte de fragrante estrume,
Recostado na poltrona desse teu hipotecado palacete
E escondido nesse teu rude sorriso e meigo azedume,
Enquanto discursas nesse maravilhoso tom de falsete.
Doem-me os calos no conforto destes sapatos de casa,
Por entre semelhante luta e que deveras sem causa...
Reconhecidamente grato a tantos e demais ingratos,
Que, nos mais ricos sapatos, beijam os meus chanatos.
... São, tantos, na competência da sua incompetência,
Que se limparão à fralda desta minha incontinência!
( Manuel Nunes Francisco ©® )
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RAIOS DE SOL
Eu quero deitar-me, ao pôr-do-sol,
Em colchão de areia colado ao mar,
Ter seus raios de luz como lençol,
Percorrendo a distância e sonhar...
Quero enroscar-me nessa beira-mar,
No aconchego das ondas que chegam,
Beber na sua espuma, num saborear
Das águas e que minha alma limpam.
Quero perder-me num tal champanhe,
Escorrido nos contornos desse teu corpo,
Partindo em sonho que me acompanhe.
Quero bater meu corpo em tuas ondas,
Num coquetel servido no melhor copo
E se taça não tiver para tais montas...
( Manuel Nunes Francisco ©® )
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PASSIVIDADE POPULAR
Com a cabeça ao meio dos ombros,
Perversa e longínqua passividade,
Sempre vasculhando nos escombros,
Segue o povo, pelas ruas da cidade...
Sente-se bem, no engodo da verdade,
Como se nada mais ao virar da esquina,
Sem sentir, do futuro, qualquer saudade
E se o momento ainda fosse menina...
Do passado, nem tampouco ouvir falar,
De tantas as desgraças por que passou,
Mas que nada fazendo a seu despertar!
Conta, no momento, este seu regalar,
Esquecida luta, que sempre chumbou
E, de seu bem-estar, nada importar...
( Manuel Nunes Francisco ©® )
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CAVAQUEIRA TRIBAL
Neste dia, sentado à mesa,
Tamanha era a cavaqueira...
Com tantos problemas no mundo
E ouvia-se tanta asneira...
Ronaldo era o melhor,
Enquanto Messi o herói,
Alegados nalguma defesa...
Todo o restante não importava!...
O importante, era quem marcava!
... Tanto absurdo, meu deus
E estupidez, que até dói!
Na minha sardinhada, estava mudo
Enquanto esperava o pior...
E tantos eram os camafeus!
... Para mim, estava tudo bem
Na razão... e a quem a tem!
Nas minhas preocupações,
Outras eram as desilusões!...
( Manuel Nunes Francisco ©® )
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ESTES PARASITAS
Já não sei o que mais fazer
A esta dor, de tanto me coçar...
Ai, que são tantos os parasitas
Que a meu sangue vêm beber
E desta minha carne saborear!
... Ah, tal se fosse só da minha,
Tanto que a tua está na mesa!
Chupam-te as veias, no prazer
De fazer inveja a sanguessugas...
Nessa morte, sem qual defesa,
Ainda vais dando das tuas faltas,
Nessa tua benevolência rainha...
De tão inocente que nasceste!
Coça-te!... Coça essa tua cabeça
Que trazes entre os ombros, vazia
E que só serviu de alguma avença
Aos bolsos de quantos não deste,
Aproveitando-se da alheia agonia,
Imunes a outros tantos e seu sofrer
De quem por demais nessas lutas,
Talvez um pouco na tua ignorância
E enchendo os cofres da ganância!...
( Manuel Nunes Francisco ©® )
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HAJA CORAGEM
Se tiveres coragem, diz-me, frente-a-frente,
Que já não queres, que tudo foi um engano,
Nesta tua mudança e neste teu de repente,
Do milagre, da adoração, ao altar profano...
Diz-me, que caminhos esses, de tão errados,
Cheios de poeiras, pedras no pó, levantadas,
Em que tropeças, no arrastar dos teus passos,
Em que nada já faz sentido, nessas estradas.
Procura nessa bússola, nesse perdido norte,
Algo que te oriente, como estrela-cadente
Percorrida nesse teu universo e te dê sorte.
Que nunca te esqueças, nesse teu lamento,
Quanto estive a teu lado, sempre presente
E como nunca escondi qualquer sentimento.
( Manuel Nunes Francisco ©® )
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TAMANHA PEIXEIRADA
Era tamanha a peixeirada,
Na praça do nosso bairro,
Lá pro lado de São Bento,
Em pregões ao tipo Cairo,
Cozinhado feito ao vento.
Eram lulas de caldeirada,
Ou espetada de enguias,
Com polvo de boa fritura,
Bife de tubarão ao ataque.
Nem faltou o fiel bacalhau
Regado com azeite quente,
No sabor de um bom tinto
E escolha de rótulo distinto,
Arroz de tomate e carapau,
Com palavreado à mistura,
Com senso de pouca dura,
No quente da aguardente.
Era chafurdar na fartazana
E entre tanto do que havia
Lá se comiam uns canivetes,
Ou amêijoas na cataplana,
No marchar duns croquetes,
Entre algum arrotar a azia
E no silêncio de um traque.
Serviço a todos e de tudo,
Mesmo arroz à valenciana
E no meio de tanta fartura
Só não havia o que querias,
Ao serviço de tanto sacana
E saco de algum barrigudo.
No meio de tanta festança,
Mesmo alguma salgalhada,
Havia os que já na pedrada,
De tal não tenha lembrança,
Que eram tantos os elogios,
Que nem faltaram assobios,
Nem faltou um pé de dança,
Para se poder roçar a pança;
Era festa para toda a colher
E homem para cada mulher...
Sobra de espinhas no prato
E com batatas em cozedura,
Encheram a barriga do gato,
Que por ali andou à mistura.
( Manuel Nunes Francisco ©® )
( Imagem da net )
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