PAZ NOCTURNA
No cair da tarde e noite fora,
Esquivo entre a luz nocturna,
Tento, no prolongar da hora,
Disfarçar a imagem soturna.
Entro por tal noite adentro,
Zarpando a um sombrio dia,
Em busca de feliz encontro,
Que me trate a melancolia.
Segue a noite, calmamente,
Célere demais a que quero
E de tão cansado da mente.
A manhã, que se aproxima,
Sacode-me, em desespero,
Sem amor e menor estima.
( Manuel Nunes Francisco ©® )
( Imagem da net )
Todos os Direitos de Autor reservados e protegidos nos termos da Lei 50/2004, de 24 de Agosto - Código do Autor. O autor autoriza a partilha deste texto e/ou excertos do mesmo, assim como a imagem inédita, se existente, desde que mantidos nos seus formatos originais e obrigatoriamente mencionada a autoria da obra intelectual.
PÁTRIA EM AGONIA
Ah, pátria, pátria, que te afogas!
Pátria, que te banhas em turvas águas,
Que dás de comer a quem te não merece
E, quando morreres, parte e te esquece!...
Que te abandona, deixando-nos a doença,
Toda a promessa e que foi nossa crença...
Levando todas as armas e bagagem,
Acompanhados de quanta gatunagem.
Ah, soberba pátria e vendida terra lusa,
Que tanto alimentas e quem pior te usa,
Servindo de pedra tumular aos restantes...
Àqueles que tanto e mais te merecem,
Não aos que pragas semeiam e oferecem,
Sonhos em vão, em promessas de feirantes!
( Manuel Nunes Francisco ©® )
( Imagem da net )
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( Imagem da net )
TELEGRAMA
Quando chegar ao Inferno,
Envio-te o meu telegrama,
Para te aquecer no Inverno
E no quente da sua chama...
Escrevo-te meras palavras
E um pouco fáceis à leitura,
Sabendo que te atrapalhas,
Por outra escrita mais dura...
Singelo, mas fortes sentidos,
Em toda a minha expressão,
Retribuído amor e devoção.
Não quero que dês ouvidos,
A quanto seja pronunciado,
Só querendo ser recordado...
( Manuel Nunes Francisco ©® )
( Imagem da net )
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ESTOU FARTO...
Acreditem que estou farto!...
Farto de políticos, charlatões,
Pessoas que não se respeitam
E rastejando, como reles rato,
Nem respeitam o meu espaço,
Tão-pouco o que melhor faço...
Farto de religiões e trafulhas,
Nojo duma seita de aldrabões,
Gente sem escrúpulos, pulhas,
Sem menor pejo que os vejam!
Estou farto e quase a vomitar,
De uma maioria de hipócritas
E vasculho, aquando vou cagar,
Numa tentativa de os encontrar,
Por entre papel feito de hóstias...
Farto, de uma gente sem cultura,
Que ao longo de séculos perdura
E sem qual intenção de melhorar,
Ir, de armas, para as ruas e lutar!
Revolta-se-me o fel e estômago,
Dá-me coices, este meu âmago,
Capaz de tudo, à volta, incendiar
E sem saber em quem acreditar...
Não há respeito, ou preconceito,
Por quantos e que se vá atropelar
E o individual querer é um direito,
Em que tudo vale, se a pele salvar,
Não interessa quem se vá esfolar!...
A pele do mais pobre desgraçado,
Será luxo de agiota, bem colocado
E da carapaça de quanta sapateira,
Far-se-á a farinha e sem peneira,
Cozinhada no lume da arrogância
E tachos, nas chamas da inocência,
Para quantos que morrem à fome
E no sono de quem melhor dorme...
Estou farto, de encolher as tripas
E cuspir, ao mundo e cá para fora,
Nessa tua benevolência que ficas,
Sem entenderes que está na hora!
... Acorda e cria o teu pensamento,
Revolta-te, enquanto é momento!...
Estou farto deste teatro de um acto,
Desta ribalta, nestas cenas de mato!
( Manuel Nunes Francisco ©® )
( francisfotoProfimagens ©® )
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ESTE LOBO SOLITÁRIO
Ah, como adoro ser tal animal,
Ser este genuíno lobo solitário,
Saber que poucos me são igual
E tanto, ou quanto, celibatário!
Como gosto desses tais trilhos
E que incessantemente farejo,
Cruzando olhares, de sozinhos
E fixando prazeres ao que vejo...
Perco-me a tamanhos cheiros,
Em quantos caminhos que sigo,
Por serranias, vales e atoleiros,
A que me chamam de mendigo...
Que seja e que a tal me pareça,
Pois que a severa dor de corno,
Que para os tais é uma doença,
Seja, para mim, o doce adorno!
Ah, como gosto deste meu ver,
Solitário, mas dono do mundo,
Fazer que de mais puder e vier,
Sempre audaz e feito de surdo!...
E que me deixem em liberdade,
Por minhas sombras e escolhas,
Por recantos de minha vontade,
Escapando-me por entre folhas.
Uivo e estremecendo o silêncio,
Pela noite, ou decorrer dos dias
E num pior de qualquer anúncio,
Escondendo-me de mais arrelias.
Ai, que esta minha pele de lobo,
Por demais feras serve de veste
E que me querem fazer de bobo,
Comendo-me o quanto me reste!
Ouvem-me, ao longe e tremendo,
Sempre que acordo a madrugada,
Ficando em tais verdades roendo
E no porquê de minha caminhada...
Mas sigo, nada havendo a perder,
Para a frente e fazendo caminho,
Tanto que sou fera, dura de roer
E quero tanto continuar sozinho!...
( Manuel Nunes Francisco ©® )
( Imagem da net )
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MINHA GÉNESES
Sou neto de Adelino Nunes,
Conhecido por "diabrete"
E avó, tal Adelaide de Jesus,
Em que nada me compromete,
Fazendo bem de meu jus...
Tão neto de Jesus, a Margarida,
Talvez que muito querida,
Morrendo de pouca idade...
E de Ladislau da Sertã,
Que muito pouco conheci,
Por entre tanta saudade,
Mas que a génese mereci,
Neste minúsculo titã
E cunho de tais pronomes...
Filho de António Francisco
E de Jesus Nunes, a mãe Celeste,
Que neste recordar me fico
E que ao mundo me deste.
( Manuel Nunes Francisco ©® )
( Imagem privada ©® )
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