RECORDAÇÕES...
Recordo o meu berço de nascimento, o palheiro e qual visitei anos mais tarde, –não, nada que me compare a Cristo, mas foi o meu real berço, limpo à pressa e enquanto se acabava a casa em início!–, assim como o espaço envolvente e na distância de uns meros dois quilómetros, até aos meus cinco anos, na Ribeira dos Covões, Troviscal, Concelho da Sertã, pelo Distrito de Castelo Branco. Lembro-me da minha criancice, no espaço da quinta da Ribeira da Várzea, sítio para o qual entretanto me arrastaram, pelas proximidades de Pedrógão Pequeno, a poucos quilómetros da Barragem do Cabril, tudo na Beira Baixa, não esquecendo a minha primeira escola, à entrada da referida vila predroguense, dos meus colegas e professores primários, das minhas diabruras e rebeldias, –isto já na altura!–, até aos meus dez anos, terminada a antiga Terceira Classe e momento em que me migraram para Lisboa, entre um ano na Buraca e dois no Dafundo, seguindo-se Algés, estes últimos ambos pertencentes ao Concelho de Oeiras, em que, no primeiro local, não passei de poucos meses de escolaridade e numa pequeníssima escola, logo a seguir a um arco e pátio interno, seguindo para o Externato Gil Eanes, na Avenida da República, em Algés e mesmo ao lado, onde acabei a então Quarta Classe e o Preparatório, com um ano de chumbo pelo meio... e sendo o meu desenvolvimento pessoal. Sigo a minha viagem, resumida, de recordações, ingressando na Escola Industrial Fonseca Benevides, na área de electrotecnia, nas minhas viagens diárias de comboio até Alcântara, quando não a pé, embora com o passe na algibeira, mas preferindo uma boa caminhada a pé, pelo decorrer de uma hora, com alguns colegas e sempre a andar, mas de meu gosto e que ainda hoje se mantém, felizmente... Aí, conheci o melhor leque de companheirismo e docentes, muito tendo aprendido e reservado no meu consciente! Entretanto, já numa vida matrimonial e, com um rebento no início de vida planetária, faço viagem para a antiga República Federal da Alemanha, onde permaneci oito anos, ao que ainda hoje tenho as maiores saudades, sempre respeitado e ajudado, longe de ser rotulado de estrangeiro, isto por parte dos autóctones, recordando raças e colegas, no geral, do qual nunca me irei esquecer, mesmo sendo hoje um viandante por terras do Seixal, Distrito de Setúbal... Recordar, é viver!... Viajo no caminho dos 68 anos, lembrando-me de todos aqueles que possivelmente me esqueceram, mas não lhes levo a mal. Recordo e, assim, sigo esta minha e já longa viagem...
Manuel Nunes Francisco ©®
DATA FINAL...
Ah, como adorava saber a data final,
Procurando uns quantos, até ao limite,
Fazer-lhes de minha justiça artesanal...
O certo, que por outras alturas tal cite!...
Podem revelar os vossos sentimentos
E acrescentando que sou filho da puta,
Pois não vos sou lençol e ornamentos...
E tampouco me interessa essa disputa!...
Ah, tanto queria ter tal conhecimento,
Dar-lhes quantos e merecidos coices,
Colocando à solta tal feito juramento!...
Nunca que lhes tenha seguido as falas,
Mas ouvindo searas a minhas foices...
Adorava partir fazendo-lhes as malas!...
Manuel Nunes Francisco ©®
Todos os Direitos de Autor reservados e protegidos nos termos da Lei 50/2004, de 24 de Agosto - Código do Autor. O autor autoriza a partilha deste texto e/ou excertos do mesmo, assim como a imagem inédita, se existente, desde que mantidos nos seus formatos originais e obrigatoriamente mencionada a autoria da obra intelectual.
ESTA PENA DE GERAÇÕES...
Tenho pena e tal me mete nojo,
Esta geração de quatro décadas,
Embora alguns de outro amojo,
Pelas tantas mentes desnatadas...
Sei que essa culpa não será dela,
Pois que cozinharam tal servido,
Tudo numa igual ilusória panela
E feito um qualquer reles cozido!...
A maioria, são gerações da treta,
Acomodados, em acções de fruir...
Esse futuro é imagem de silhueta,
Pelo tamanho falso mundo a ruir!...
Falam de liberdade, pobres seres,
Pois que a receberam e venderam,
Entregando-se a quantos favores,
Na prova que nunca a mereceram!...
E vão cagando postas de pescada,
Dumas pescas que outros fizeram,
Tudo lhes servindo, de mão dada,
De redes e das artes que colheram...
Geração de uns maus cozinhados,
Aquecidos em chamas de ilusões,
Em fornos e fogões assombrados,
Sustentando e sorrindo a cabrões...
Pensando-se os mais inteligentes,
Não ouvindo uns velhos andantes,
Feitos de cu pro ar, subservientes
E um tanto de grilos bem-falantes!...
Manuel Nunes Francisco ©®
Todos os Direitos de Autor reservados e protegidos nos termos da Lei 50/2004, de 24 de Agosto - Código do Autor. O autor autoriza a partilha deste texto e/ou excertos do mesmo, assim como a imagem inédita, se existente, desde que mantidos nos seus formatos originais e obrigatoriamente mencionada a autoria da obra intelectual.
VIDA, FACA DE DOIS GUMES
A vida é uma faca de dois gumes,
Aquele pau de dois bicos,
Místico amor, feito de azedumes,
Seja dos pobres, ou ricos!...
É corrente de ribeira à solta,
Melodia, num piar de aves,
Calma, após alguma revolta,
Filha das noites mais suaves...
Ai, a vida, essa incompreendida,
Descendente de um paraíso
E talhada em haste retorcida!...
Quem me dera ter sido dono da vida,
Desde o nascer, à despedida
E ter ganho, mais cedo, juízo!...
Manuel Nunes Francisco ©®
Todos os Direitos de Autor reservados e protegidos nos termos da Lei 50/2004, de 24 de Agosto - Código do Autor. O autor autoriza a partilha deste texto e/ou excertos do mesmo, assim como a imagem inédita, se existente, desde que mantidos nos seus formatos originais e obrigatoriamente mencionada a autoria da obra intelectual.
LISBOA, SIMPLESMENTE LISBOA
Lisboa, do triste fado,
Do Tejo, traineiras e gaivotas,
De um percurso desencontrado,
De subidas e ruas tortas...
Do castelo e sete colinas,
De um passado pombalino,
Terremoto e tristes sinas,
Entregue ao seu destino...
Lisboa, de tantos amores,
Desilusões e luz de pinturas,
Uns quantos dissabores,
Presa a quantas diabruras...
Lisboa, de ocultos mistérios,
Tantas coisas por contar,
Dos mais simples, aos mais sérios
E tanto sonho para despertar...
Lisboa, do fado e capital,
Deste mar em que toma banho,
Misturando doce com sal,
Numa amálgama e tal tamanho...
Lisboa, envelhecida e tão menina,
Irrequieta e maliciosa,
Adulta e parecendo pequenina,
Em cama feita e deliciosa...
Lisboa, de nocturnas guitarradas,
Risos e de certas lágrimas,
De vidas desfeitas e abençoadas,
Feita rainha de tantas almas...
Lisboa, Lisboa, tal Lisboa,
Feita em altos e baixos,
Percorrida um tanto à toa
E senhora de quantos caprichos!...
Manuel Nunes Francisco ©®
- Imagem da net -
Todos os Direitos de Autor reservados e protegidos nos termos da Lei 50/2004, de 24 de Agosto - Código do Autor. O autor autoriza a partilha deste texto e/ou excertos do mesmo, assim como a imagem inédita, se existente, desde que mantidos nos seus formatos originais e obrigatoriamente mencionada a autoria da obra intelectual.
ESTE POVO, QUE TAMBÉM É MEU...
Pão e vinho, umas bejecas,
Sardinhas gordas, bem assadas,
Uns couratos para acompanhar,
Fado e futebol, um pouco de religião,
Coscuvilhice pela vida alheia,
Mais importante que a própria vida,
Um circo bem montado em São Bento,
Não importa se com bilhetes de lamentos,
De um povo que bate palmas,
Empenhando as suas almas,
Já sem pão para sustento,
Nem passos que atinjam metas,
Vivendo na maior confusão,
Enquanto outros de barriga cheia,
Na forma mais desmedida,
Dando ouvidos a vozes desalmadas,
Sem travarem, enquanto tempo de parar!...
É este o meu povo,
No seu orgulho e sangue lusitano,
Não procurando nada de novo,
Num deixa andar tão tamanho,
Indolente e deveras tacanho,
Pobre de mente e de seu pano!...
Gente, que encostou, acomodada,
Nuvem negra de quantos antepassados,
Que pensam andar acordados,
Mortos-vivos e deambulando,
Prisioneiros de crenças e de bancos,
Vivendo nos seus encantos,
Na maioria pasmados,
Em quantos sonos desencontrados,
Por pesadelos de uma vida assombrada
E sem entenderem esse seu fado,
Num eterno cabresto de jumentos...
Este povo, que também é meu,
Mas entregue ao espírito que morreu!...
Manuel Nunes Francisco ©®
Todos os Direitos de Autor reservados e protegidos nos termos da Lei 50/2004, de 24 de Agosto - Código do Autor. O autor autoriza a partilha deste texto e/ou excertos do mesmo, assim como a imagem inédita, se existente, desde que mantidos nos seus formatos originais e obrigatoriamente mencionada a autoria da obra intelectual.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
. UNS SOBEM, OUTROS DESCEM!...
. SIGO NAS CALMAS, OLHANDO ...
. SOBREVIVÊNCIA NO SILÊNCIO...