ALENTEJO DA MINHA ALMA

Ah, Alentejo da minha alma,
Que andas a perder o teu brilho,
O doirado das velhas paisagens,
O doce sabor dessa tua calma,
O ondular trigueiro e cujo filho,
Das belas planícies e miragens!...

Tão ternas, como de selvagens,
Sacudidas ao vento, pelo Estio
Espigas, em doiradas mensagens,
Estimuladas gargantas a desafio,
Moçoilas de carnes branqueadas
E seus lenços em faces doiradas!...

São saudades, rabiscos do tempo,
Imagens, que ficaram no passado,
Recordando tal espaço ondulado,
De searas enfeitando qual campo,
Hoje não passando de memórias,
A quem ainda conta suas histórias!...

Alentejo, alma e em mim maneira,
Lembranças de conversa trigueira,
De toda a sua paisagem verdejante,
Da poesia, das cores e de seu cante,
Dos seus músicos e tantos actores,
De corpos enrolados pelos amores!...

Acordes por cordas de campaniças,
O roçar do vai-e-vem nuns cantares,
A troca de olhares em estios luares,
Na calma e dias de certas preguiças,
Noites de paixão de quem atrevido,
Mantendo o silêncio do conseguido!...

Ah, Alentejo, por onde vais ficando,
Tão longe da alma que me prendeu,
Enquanto meus olhos vão chorando,
Águas, como se de um rio secando,
Onde pássaros cantavam, bebendo
E partida de quem te compreendeu!...

Manuel Nunes Francisco ©®
Todos os Direitos de Autor reservados e protegidos nos termos da Lei 50/2004, de 24 de Agosto - Código do Autor. O autor autoriza a partilha deste texto e/ou excertos do mesmo, assim como a imagem inédita, se existente, desde que mantidos nos seus formatos originais e obrigatoriamente mencionada a autoria da obra intelectual.

ILUSÃO DE MATILHA

Sentam-se todos à mesa, os lobos,
Escolhendo logo os melhores lugares
E chegam os cães, levantando as patinhas,
Tentando ocupar um espaço, feitos bobos,
Lambendo as patas, nas calminhas,
Aos lobos, pensando serem seus pares!...
Coitados, recebendo ordens para as baixar,
Sendo a sina de quem acabou de chegar!...
Seja na demarcada hierarquia política,
Percorridas chefias do trabalho,
Recentes empresas em formação,
Supostos e uns reles construtores,
Não sendo nada nem ninguém,
Nem tendo nada na mão,
Talvez que só mesmo cascalho,
Ou mesmo a trampa que têm,
Como argamassa mais específica,
Mas já pensam que são alguém,
Pelos caminhos de onde vêm
E na mão agarrada de credores!...
Ah, pobres animais, não se deixem enganar,
Pois, cães, nunca se vestirão da mesma pele,
Quer andem ao lado de lobos e iguais caminhos
E só servindo para os engordar,
Tão-pouco passará de cão, por mais que se esfole,
Todo aquele aos seus lambidos espinhos!...

Manuel Nunes Francisco ©®
Todos os Direitos de Autor reservados e protegidos nos termos da Lei 50/2004, de 24 de Agosto - Código do Autor. O autor autoriza a partilha deste texto e/ou excertos do mesmo, assim como a imagem inédita, se existente, desde que mantidos nos seus formatos originais e obrigatoriamente mencionada a autoria da obra intelectual.

DISFARÇADOS ESCORPIÕES...

Ah, seus podres, disfarçados escorpiões,
Vocês lá sabem das vossas razões,
Enquanto me fico pelas minhas!...
Por estas loucuras natalícias,
Todos pensam que são pinheiros,
Embora não passem de pinhas,
Prisioneiros das vossas malícias,
Prontos a servir umas lareiras,
Sem combustível de maneiras,
Mas na ideia que são santeiros!...
Santos, de mãos dadas com coirões,
Levando para a frente a canga,
Carregada da universal tanga
E milénios de confusões!...
Lambe-botas do sistema,
Senhores do porta-moedas,
Construtores de um esquema
E em que sois uns meros merdas!...
E não é triste ser merda,
Triste é comê-la à garfada!...

Manuel Nunes Francisco ©®
Todos os Direitos de Autor reservados e protegidos nos termos da Lei 50/2004, de 24 de Agosto - Código do Autor. O autor autoriza a partilha deste texto e/ou excertos do mesmo, assim como a imagem inédita, se existente, desde que mantidos nos seus formatos originais e obrigatoriamente mencionada a autoria da obra intelectual.

NATALÍCIO PELO TRASEIRO...

Aos puros, durante um ano inteiro,
Desejo o que mais desejarem,
Porém, a quem foi de interesseiro,
Desejo o que mais merecerem!...

Que me deixem em paz, pelo Natal,
Quer seja nos dias que se seguem...
Quero que se fodam, pelo tão banal,
Chupando carnes que endurecem!...

E se sentem na ponta de um caralho,
Esse, com qual nos tentaram foder,
Em manobras de punhetas e prazer...

Quero que todos levem no traseiro,
A que sempre primaram o dinheiro
E nunca a pensamentos que espalho!...

Manuel Nunes Francisco ©®
Todos os Direitos de Autor reservados e protegidos nos termos da Lei 50/2004, de 24 de Agosto - Código do Autor. O autor autoriza a partilha deste texto e/ou excertos do mesmo, assim como a imagem inédita, se existente, desde que mantidos nos seus formatos originais e obrigatoriamente mencionada a autoria da obra intelectual.