A ÁGUA - Poema de Bocage
Meus senhores, eu sou a água,
Que lava a cara, que lava os olhos,
Que lava a rata e os entrefolhos,
Que lava a nabiça e os agriões,
Que lava a piça e os colhões,
Que lava as damas e o que está vago,
Pois lava as mamas e por onde cago.
Meus senhores, aqui está a água,
Que rega a salsa e o rabanete,
Que lava a língua a quem faz minete,
Que lava o chibo mesmo da raspa,
Tira o cheiro a bacalhau rasca,
Que bebe o homem, que bebe o cão,
Que lava a cona e o berbigão.
Meus senhores, aqui está a água,
Que lava os olhos e os grelinhos,
Que lava a cona e os paninhos,
Que lava o sangue das grandes lutas,
Que lava sérias e lava putas,
Apaga o lume e o borralho
E que lava as guelras ao caralho.
Meus senhores, aqui está a água,
Que rega rosas e manjericos,
Que lava o bidé, que lava penicos,
Tira mau cheiro das algibeiras,
Dá de beber às fressureiras,
Lava a tromba a qualquer fantoche
E lava a boca depois de um broche.
- Manuel Maria Barbosa du Bocage -
Um clássico da literatura portuguesa
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
. PASSADO, PRESENTE E FUTUR...
. PARABÉNS
. 69...