GAIVOTA, QUAL ME SINTO
Pena que ninguém me siga,
Em tais momentos de reflexão,
Aqui estando, ouvindo as águas,
Em remoinho e vai-e-vem,
Sem que algo mais me diga,
Senão afastar-me da confusão,
Sacudindo quaisquer mágoas,
Sobre a arriba que me sustem...
Sinto-me como uma gaivota,
Ao entrar do entardecer,
Desejando seguir mundos,
Conhecer novos oceanos,
Sejam eles os mais profundos,
Olhando o distante acontecer,
Tal pôr-do-sol, bem colorido,
Com a noite a bater à porta,
Numa paz que me conforta
E por sonhos de um idiota,
Quantas vezes de profanos!...
Sinto vontade de outras falésias,
Longínquos areais e continentes,
Novos ventos, soprando as asas,
Este corpo, de pensamento dorido
E neles me deixar planar,
Ouvir outros pipilares de contentes,
Danças celestes de extravasar,
Esquecendo medíocres causas,
Na mais perfeita das amnésias...
Mas não da gaivota, qual me sinto,
Em rumo ao distante horizonte,
Nos meus voos e com tais a vida finto,
Naquele meu fiel instinto,
Não sendo mais uma a monte,
Pelo que o meu mundo é distinto,
De quantos outros e de tantos,
Pelos quais meus olhos são prantos!...
Manuel Nunes Francisco ©®
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